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“Sem adaptações compatíveis com os tipos de deficiência, não haverá possibilidade do profissional realizar seu trabalho de modo autônomo”

Pela passagem do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, marcado no dia 3 de dezembro, o CRESS Alagoas conversou com Fabrício Xavier de Oliveira, assistente social que possui baixa visão

03/12/2020 às 19h39

Pela passagem do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, marcado no dia 3 de dezembro, o CRESS Alagoas conversou com Fabrício Xavier de Oliveira, assistente social que possui baixa visão.
Fabricio destacou os principais desafios para o exercício profissional do/a assistente social que possua algum tipo de deficiência, bem como as implicações colocadas aos profissionais no período de pandemia.


“Para que uma pessoa com deficiência possa exercer a profissão com as condições éticas e técnicas, deve-se garantir, adaptações razoáveis e implementação de tecnologias assistivas capazes de minimizar as limitações impostas pelas barreiras impeditivas do exercício autônomo das atividades profissionais”, afirmou Fabrício.


O assistente social pontuou ainda as demandas do Conjunto CFESS/CRESS na temática: “articulação com os movimentos de defesa dos direitos das pessoas com deficiência, na busca da implementação dos direitos já existentes, bem como para o avanço da luta por acessibilidade”, levantou como uma das prioridades.

Confira a entrevista na íntegra:

Quais barreiras são enfrentadas no seu cotidiano, desde a ida ao trabalho até sua atividade profissional?
No meu caso, como a limitação é visual, os maiores obstáculos estão relacionados ao acesso à informação escrita, placas de sinalização, avisos, murais, números de identificação, nomes de transportes públicos, dentre outros, pois estes, quase sempre, estão inacessíveis para pessoas com baixa visão, que é o meu caso, ou cegueira total.
Outra dificuldade é a de reconhecer pessoas que estejam há mais de dois metros de distância de mim, pois já é suficiente para que eu não consiga identificar os detalhes que diferenciam a feição das pessoas. Isso causa transtornos e dificuldade de comunicação na rua, pois preciso chegar bem perto das pessoas para me comunicar melhor, conseguir reconhecer melhor com quem estou falando.
Além disso, os riscos ao caminhar pelas ruas, já que não posso dirigir em função da limitação visual, são constantes, pois não é raro acontecer de passar muito perto de sofrer um atropelamento quando atravesso uma rua e não vejo um carro vindo, pois em meu campo visual há diversos pontos cegos.
Todos esses fatores, de algum modo, também estão presentes no espaço sócio-ocupacional, especialmente no tocante a dificuldade no acesso à informação, textos escritos impressos de todas as espécies, livros impressos, documentos institucionais e pessoais dos usuários, dentre outros.
Também é recorrente alguns transtornos atitudinais causados pelas ações de colegas de trabalho, que podem não entender a minha condição, bem como há ocasiões em que estes não lembram que possuo uma limitação visual, colocando-me por vezes em situações onde não posso corresponder a solicitações etc. Outra questão ocorre por de atitudes que demonstram certo julgamento de inferiorização, ou mesmo exclusão em alguns aspectos, em razão da deficiência. Sobre este último ponto, há mais dificuldades para determinar claramente qual a natureza dessas atitudes: se provenientes de desprezo, preconceito, ignorância ou de falta de bom senso.
Ademais, pode-se dizer que as dificuldades são inúmeras, e que elas aparecem a medida que há a necessidade de interação com um mundo que não é preparado para adaptar a comunicação, as vias de transporte e outras estruturas de uso das pessoas.

A garantia dos recursos necessários para o pleno exercício profissional é algo que pode ser destacado como condição que viabiliza autonomia nas ações? Quais são os desafios que você destacaria para o exercício profissional com condições éticas e técnicas, tendo em vista os limites de barreiras arquitetônicas, atitudinais, comunicacionais, urbanísticas, de linguagem no cotidiano?
Sim! Para que uma pessoa com deficiência possa exercer a profissão com as condições éticas e técnicas, deve-se garantir, adaptações razoáveis e implementação de tecnologias assistivas capazes de minimizar as limitações impostas pelas barreiras impeditivas do exercício autônomo das atividades profissionais, urbanísticas, arquitetônicas, comunicacionais, atitudinais, etc.
Em outras palavras, mesmo com toda estrutura exigida pela Resolução CFESS nº 493/2006, caso não haja adaptações razoáveis e tecnologias assistivas compatíveis com os diversos tipos de deficiência, não haverá possibilidade do/a profissional com deficiência realizar seu trabalho de modo pleno e autônomo.
Desse modo, impõe-se como desafios que se pode destacar:
A integral aplicação da Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015), bem como de todo o regramento que adveio desta como a Resolução CNJ nº 230/2016 e congêneres.
Atuação dos órgãos oficiais de defesa dos direitos das pessoas com deficiência no campo do trabalho, na fiscalização da aplicação da lei.
Atuação dos conselhos profissionais (CFESS/CRESS) no (a): a) estudo das questões atinentes às pessoas com deficiência; b) mapeamento dos profissionais com deficiência para adequada fiscalização de suas condições de trabalho, bem como a atuação junto as instituições empregadoras no sentido de cobrar as providências necessárias; c) articulação com os movimentos de defesa dos direitos das pessoas com deficiência, na busca da implementação dos direitos já existentes, bem como para o avanço da luta por acessibilidade.

Quais os maiores desafios em relação às mudanças e adaptações no espaço sócio-ocupacional em que atua no atual contexto de pandemia pelo novo coronavírus?
No setor onde trabalho as funções principais foram temporariamente suspensas, por razões de segurança dos profissionais e usuários.
Nesse sentido, as atribuições outras puderam ser cumpridas porque possuo algumas adaptações mínimas em minha casa, onde trabalhei no período.
Neste momento, as atividades presenciais retornaram parcialmente. Nesse caso, desempenho minhas atribuições razoavelmente como antes da pandemia, ou seja, com adaptações razoáveis que parcialmente atendem as minhas necessidades de acessibilidade.

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